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“Disse Deus: Haja luz; e houve luz.”
(Gênesis 1: 3)

O aprendizado no primeiro grau é catequese eloquente e significativa que deve ser incorporada ao espírito do Aprendiz Admitido com a devida seriedade1. Trata-se de labor que somente pode ser levado a cabo com esmero, pois as lições ali transmitidas são dotadas de simbolismo ímpar, sempre melhor compreensíveis por aqueles que se dedicam ao estudo consciencioso do grau. Um Aprendiz Admitido bem formado será, seguramente, um Companheiro de Ofício exemplar e um Mestre Maçom responsável, como se espera devam ser todos os maçons. Por isso é que hão de conhecer os princípios fundamentais de seu grau e apreendê-los com atenção.
É a Obrigação que torna o Aprendiz Admitido um maçom, pois esta – que em outros ritos é tida como um juramento2 – é sempre íntima e verdadeira. Não há outro elemento que torna o Aprendiz um maçom, senão a sua Obrigação para com a Sublime Ordem. No entanto, para que essa Obrigação seja assumida, deve o Aprendiz provir do corpo de uma Loja de Maçons Livres e Aceitos legalmente constituída, devidamente reunida em um lugar representando o pavimento térreo do Templo do Rei Salomão, guarnecida com o L S, o E e o C, juntamente com uma Carta ou Dispensa de um Grande Corpo de jurisdição competente habilitando-a para o trabalho.

Em sua preparação, inicialmente, o Aprendiz é despojado de todos os seus metais. Não deve, ademais, estar nem nu nem vestido, nem descalço nem calçado. Deve adentrar ao Templo com o joelho e o peito esquerdos nus, de olhos vendados e com um laço ao redor de seu pescoço. A finalidade desse simbolismo é demonstrar que as riquezas e honras terrenas pouco importam à maçonaria. Conota, ainda, que devemos ser sinceros em nossas atitudes e nos trabalhos em que nos empenhamos, que devemos compreender as belezas da maçonaria antes que nossos olhos a contemplem, e que podemos ser retirados da Loja pelo laço caso não sejamos merecedores de ser tomados pela mão como um Maçom.

Naquela condição o Aprendiz é conduzido à porta da Loja e levado a dar um número próprio de batidas distintas, as quais são respondidas com outras tantas pelo lado de dentro. Quem vem lá?, questiona-se em Loja. São “pobres e cegos Candidatos desejosos de ter e receber uma parte dos direitos, luzes e benefícios desta Venerável Loja, erigida a Deus e dedicada à memória dos Sagrados Santos de nome João, assim como todos os Irmãos e Companheiros que trilharam este caminho antes deles”, responde com segurança o 1º Diácono. Tal é a representação do que está escrito em Mateus 7:7-8: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á” 3.

Após declarar a sua vontade, o candidato – que é homem nascido livre, de idade legal e bem recomendado – é então recebido na devida forma, isto é, com o joelho esquerdo nu, o direito formando o ângulo de um esquadro, a mão direita sustentando e a direita descansando sobre o L S, o E e o C, porque demonstra depositar a sua confiança em Deus. Para vários caminhos ele é transportado, no Sul, no Oeste e, finalmente, no Leste, em busca de Luz na maçonaria, tomando a solene Obrigação na posição devida, com os instrumentos adequados e na presença do L S Um instrumento pontiagudo é cravado em seu peito esquerdo, fazendo-o compreender que, assim como aquele instrumento o fere a carne, da mesma forma a sua lembrança ferirá a sua mente e consciência se tentar, ilegitimamente, revelar os segredos que lhe foram (ou serão) confiados.
Durante a Iniciação, a catequese do grau apresenta aos Aprendizes Admitidos certos SSn, um Tq, uma Pa e relembra os pontos perfeitos da Iniciação (isto é, o Peitoral, representativo da Fortitude; o Manual, representativo da Prudência; o Gutural, que conota a Temperança; e o Pedal, que conota a Justiça). São elementos que compõem os SSn do aprendizado neste grau (i) o passo, (ii) a devida guarda (due guard) e (iii) o sinal penal. Trata-se de ângulos retos, horizontais e perpendiculares: o primeiro forma com os pés o ângulo de uma figura oblonga, tal o piso da Loja, à guisa do pavimento térreo do Templo de Salomão; o segundo alude à posição das mãos dos candidatos ao prestarem a Obrigação; o terceiro é relativo à severa penalidade contida na Obrigação referente ao flagelo capital dos que traem a palavra empenhada. Por sua vez, o Tq é um aperto de mão que permite aos maçons reconhecerem-se tanto na escuridão quanto na luz, cuja denominação (Pa) é por todos conhecida, porém proibida de ser passada diretamente, pois o Aprendiz não a recebeu desta maneira e, portanto, não pode assim transmiti-la. Há uma soletração e uma divisão próprias para que a denominação do toque (Pa) seja corretamente transmitida.

Uma vez trazidos à Luz, o que primeiro contemplam os Aprendizes são as Três Luzes Maiores e as Três Luzes Menores da maçonaria. As primeiras são aquelas que repousam sobre o Altar da Loja, cujos significados ligam-se à fé, às ações e à contenção de nossos desejos e paixões. A seu turno, as Três Luzes Menores – dispostas em candelabros situados no Leste, no Oeste e no Sul – referem-se, respectivamente, aos conhecidos astros que governam o dia e a noite (como está em Gênesis 1: 16: “Fez Deus os dois grandes luzeiros: o maior para governar o dia, e o menor para governar a noite; e fez também as estrelas”) e ao dirigente da Loja. Naquele momento, o Venerável Mestre se aproxima dos neófitos e os investe (tal é realizado por meio dos Irmãos que responderam pelos Aprendizes durante a Iniciação, pois os Aprendizes ainda não obtiveram instruções do grau) com o Tq e a Pa, ordenando que aqueles se levantem, saúdem o Segundo e o Primeiro Vigilantes e provem-lhes que estão de posse do Ps, da DG, do Sn, do Tq e da Pa de Aprendiz Admitido.

É na Iniciação que os Aprendizes Admitidos recebem o paramento mais importante e significativo de toda a sua vida maçônica: o avental distintivo dos maçons, de abeta levantada, confeccionado em couro branco representando a pele de um cordeiro. A cor branca remete à pureza da vida e à retidão de conduta, tão essencialmente necessárias para que se obtenha admissão na Loja Celestial presidida pelo Supremo Arquiteto do Universo. A abeta levantada, Maçonicamente, também impede que os Aprendizes maculem suas vestes com argamassa não preparada. Infere-se do Ritual que essa indumentária é emblema mais antigo que o tosão ou velo dourado (a lã de ouro do carneiro alado Crisómalo) que Jasão e seus Argonautas heroicamente recuperaram – vencendo todas as dificuldades e obstáculos colocados – em troca do reino de Pélias; é também mais antiga que a insígnia da águia representativa das legiões do Império Romano; e, quando devidamente usada, traz mais honras do que pertencer à lendária e nobilíssima Ordem da Jarreteira, a mais vetusta ordem de cavalaria inglesa. O Ritual deixa claro que qualquer louro de vitória ou medalha recebida durante a vida, por mais importantes que sejam, não poderão jamais superar a honra de usar tal indumentária na maçonaria, pois é tal peça que reveste o homem da condição de verdadeiro maçom. Ainda que se logre escalar todos os degraus da Ordem e encontrar fama neste círculo místico, e mesmo que um dia se possa obter o paramento púrpuro dos grandes oficiais da Fraternidade, ainda assim, antes de nossa entrada nos portões celestiais, jamais tamanha honraria – tão distinta e tão emblemática da pureza e de todas as perfeições – será concedida a um maçom como esta simples e não adornada indumentária branca, que deve ser usada por toda uma vida honrosa, e que, na morte, há de ser depositada sobre o esquife que confinará os restos mortais do Obreiro, com eles repousando debaixo das terras do vale.

Uma vez paramentados, solicita-se aos Aprendizes Admitidos uma contribuição a ser depositada nos arquivos da Loja, para registro daquele importante momento; contudo, estão desprovidos de qualquer metal. Tal os faz compreender que ao encontrar um Irmão em situação de necessidade será de rigor contribuir para o seu alívio, tão generosamente quanto a sua necessidade exija e dentro de suas possibilidades. Estando, porém, sem metais naquele momento, garante-se, por outro lado, que nada ofensivo seja levado por qualquer deles para dentro do Templo, respeitando-se, ademais, o que consta das Sagradas Escrituras, que afirmam que o Templo de Salomão foi edificado com pedras já preparadas nas pedreiras, de maneira que nem martelo, nem machado, nem instrumento algum de ferro ali se ouvia quando o edificaram (1 Reis 6:7).

Para o recebimento de seus salários os Aprendizes têm que laborar, necessitando, consequentemente, de instrumentos adequados ao seu ofício. No primeiro grau esses instrumentos são em número de dois. O primeiro serve para medir e delinear o trabalho e o descanso ao longo das vinte e quatro horas do dia (são oito horas para servir a Deus, oito horas para o ofício habitual e oito horas para o descanso e o sono); o segundo se destina a desbastar as arestas da pedra bruta, especialmente a que está dentro de nossos corações e consciências. Todo este trabalho deve ser levado a cabo, contudo, à luz da virtude da Cautela, sem a qual nossas palavras e ações podem ser mal utilizadas ou mal compreendidas, especialmente pelos inimigos que estão à nossa volta. Ademais, os Aprendizes Admitidos devem servir a seus Mestres com liberdade, fervor e zelo, pilares tais emblematicamente representados pelo giz, pelo carvão e pela argila. O giz representa a liberdade, porque é leve e risca facilmente; o carvão representa o fervor, porque, quando devidamente inflamado, faz derreter os mais endurecidos metais; e a argila representa o zelo, por ser a representação da mãe-terra, sempre cuidadosa para com todos os homens, ainda que constantemente agredida.

Os Aprendizes Admitidos – juntamente aos Companheiros de Ofício – têm assento no canto nordeste da Loja, pois era nesta posição que tradicionalmente se instalava a pedra fundamental para o início das edificações à época da construção do Templo de Salomão, deixando entrever que todos esses Obreiros têm importantes trabalhos a realizar antes de se tornarem Mestres. Havendo mais de uma fileira de cadeiras no lado Norte, devem os Aprendizes sentar-se mais próximos ao centro da Loja; e havendo apenas uma fileira de cadeiras, sentam-se os Aprendizes mais próximos do Leste, ficando os Companheiros de Ofício mais a Oeste. Nesta posição passarão a melhor compreender os segredos do grau e sua simbologia, em forma de catecismo passado pelos Mestres. Oportunamente, devem também ser avaliados – com apresentação de trabalhos e realização de provas – para que façam jus ao almejado aumento de salário.

Será conforme a catequese do grau que deverão os Aprendizes Admitidos governar-se, seguindo as regras de perfeição e as máximas presentes nas preleções maçônicas, lembrando sempre de seus deveres para com Deus, para com o próximo e para consigo mesmos. Será este aprendizado que contribuirá para formar cidadãos honrados, cautelosos com as suas atitudes e zelosos para com a sua imagem, pois um bom maçom dentro de Loja espelha o seu comportamento no país e na sociedade em que vive. Antes de se tornarem Companheiros de Ofício e Mestres Maçons os Aprendizes Admitidos devem comprovar ter conhecimento desta catequese, sem o que o seu aprendizado futuro restará altamente prejudicado. Cabe às Lojas planejar e executar o seu programa de estudos aos Aprendizes Admitidos, pois sabe-se que a base dos conhecimentos maçônicos se constrói verdadeiramente com as lições aprendidas no primeiro grau.

Se somos “Irmãos” é porque somos filhos de um mesmo Pai, que é o Supremo Arquiteto do Universo, e em Seu Nome os nossos trabalhos são abertos e encerrados. Por isso é que a Obrigação assumida pelos Aprendizes realiza-se “na presença de Deus Todo Poderoso”, e, ao final, roga-se a ajuda de Deus para conservá-los firmes na manutenção e cumprimento desta Obrigação. Com a ajuda de Deus os Aprendizes poderão exercer os seus deveres para com o próximo e para consigo mesmos, transformando essa tríade perfeita – o olhar para Deus, o olhar para o próximo e o olhar para si próprios – em verdadeira profissão de fé a ser fielmente seguida e eternamente preservada. Que assim seja!

CITAÇÕES:

Ir. Valério de Oliveira Mazzuoli
Assessor e Consultor Jurídico do
Grande Oriente do Estado de Mato Grosso – GOEMT
Benemérito da Ordem e Membro-titular
do Ilustre Conselho do GOEMT.
Obreiro da BCARLS Conquista e Integração nº 8 (REAA) e filiado à ARLS Cuyabá nº 88 (Rito de York)
Oriente Cuiabá – MT

BIBLIOGRAFIA

BÍBLIA. Bíblia de Estudo de Genebra. 2. ed. Trad. vários colaboradores. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.

GOEMT. Rito de York: Ritual de Aprendiz Admitido. 2. ed. Rodrigo Ribeiro Verão et all (Org.). Cuiabá: GOEMT, 2020.

MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Da pedra bruta à pedra cúbica: ensaios de evolução do Aprendiz ao Companheiro. Cuiabá: Umanos, 2022.

WALKER, Wendell K. (Org.). The Standard Work and Lectures of Ancient Craft Masonry: In the Jurisdiction of the Grand Lodge of Free and Accepted Masons of the State of New York. New York: Grand Lodge, 1972.

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